“A Bíblia prega a escravidão e Adão era bissexual”, diz escritor

“Onde que eu aprendi a escravizar? Eu aprendi a escravizar dentro da Bíblia. Porque Deus trata o escravo como uma mercadoria. Matar um escravo não era crime.”





Sim, é isso mesmo que você leu. Essas e outras conclusões um tanto heterodoxas são do advogado tributarista e estudioso da Bíblia, Vinícios Leoncio. Ele está lançando o livro “Em nome do Pai e do Filho”, no qual relaciona temas espinhosos como células-tronco, transfusão de sangue, aborto, prostituição, escravidão e diversas formas de preconceito à Bíblia. Isso quando não culpa as escrituras por parte dos problemas da Humanidade.

Leôncio é autor de outros dois títulos, um deles “A Quarta Filosofia: Jesus Cristo não pagou o tributo”, cujo tema central ele explica logo no início da entrevista concedida por Vinícios à Galileu.

Você é formado em direito. Como começou a estudar a Bíblia?
Sou advogado tributarista especializado em direito tributário e em direito penal tributário. Me aproximei da Bíblia por ocasião do meu primeiro livro, em que eu defendo que o motivo da condenação de Jesus foi a sonegação de impostos. Depois disso comecei a indagar se realmente a Bíblia responde a determinadas práticas que a nossa sociedade moderna vem utilizando.

Jesus foi condenado por sonegação de impostos?
No livro “A Quarta Filosofia - Jesus Cristo não pagou o tributo” eu situei o movimento político e econômico da Judéia no ano da condenação de Cristo. E cheguei à conclusão de que a sociedade judaica estava extremamente pressionada pelo dominador romano, cobrando um tributo astronômico, e por outro lado a casta sacerdotal judaica exigindo também pesados tributos na forma de dízimo. E a pena imposta a Cristo foi uma pena romana, a crucificação. Os judeus não utilizam essa pena, usada em crimes de natureza política. E o cerne da acusação era sonegação de impostos.

Qual sua intenção ao escrever esse novo livro e qual a expectativa ao lançá-lo?
A intenção é justamente provocar uma discussão acerca do equilíbrio social. Porque é muito simples a questão da homossexualidade, por exemplo. É muito simples o bispo, o padre, o pastor, dizer que a homossexualidade foi amaldiçoada por Deus. Então a sociedade não aceita a homossexualidade em parte porque ela é pecaminosa. Mas onde é que está isso? Isso não existe dentro do contexto bíblico.

Você atribui a homofobia ou qualquer tipo de preconceito somente à Bíblia? Não são comportamentos reforçados pela sociedade ao longo da história?
Vamos admitir que a Bíblia descreva todo o sistema criacional. Vamos esquecer Darwin. Vamos tomá-la apenas como a base, o pilar de toda a Humanidade. Onde que eu aprendi a escravizar? Eu aprendi a escravizar dentro da Bíblia. Porque Deus trata o escravo como uma mercadoria. Matar um escravo não era crime.

O que você pensa a respeito do homossexualismo?
Eu defendo que a Bíblia não proíbe a homossexualidade. Até porque tivemos personagens bíblicos de relevante destaque que tiveram romance homossexual.

Queria que você falasse da mudança de sexo, algo que a meu ver não era sequer cogitada à época de Cristo.
Quando Cristo é questionado sobre as relações no casamento pelos inquisidores, diz que a separação não é mais possível. O que Deus uniu o homem não separa. Homem e mulher se unirão numa só carne. Respondem os inquisidores: “Então se nós vamos ficar presos a uma mulher nós não devemos nos casar?”. Aí retruca Cristo: “Mas nem todos estão aptos para o casamento. Existem os eunucos”. Cristo então enumera três categorias de eunucos. Aqueles que assim nasceram, os eunucos que foram castrados pelos homens e os eunucos que castraram a si próprios. E arremata Cristo: “Quem tiver capacidade de entender isso, que entenda”. Então a gente observa que é um dos poucos momentos em que Cristo dá uma opinião direta. Porque nesse esquema de parábolas, Cristo nunca responde a uma pergunta diretamente. Nesse caso ele frisou uma opinião pessoal. E o que é a autocastração? O que é um homem que foi castrado por outro homem? Nada mais é do que uma cirurgia de mudança de sexo.

Essa é uma interpretação sua.
Sim.

E que dá margem a dúvidas.
Bom, mas vamos nos concentrar no parâmetro do diálogo, que estava dentro do contexto do casamento, dentro de uma relação homem e mulher. Ele explica claramente as categorias de eunuco. Os que nasceram do ventre da mãe, os que se fizeram pelos homens e aqueles que se fizeram a si mesmos, e castraram a si mesmos.

Você está definindo a Bíblia como a Caixa de Pandora da civilização moderna. É isso mesmo?
É isso mesmo.

O que você propõe para que isso seja desfeito?
Eu acho que nós temos que ter um outro conceito de Deus. Eu não sou ateu. Eu acredito em Deus. Eu só não acredito na estrutura bíblica.

Se a Bíblia é, de fato, essa Caixa de Pandora, por que interpretá-la? Não é mais fácil propor que ela seja posta de lado e dizer apenas que não é um livro válido?
Há uma divergência completa onde a fé se encontra com a ciência. A fé não admite prova. Nenhuma fé admite prova. Quem tem fé não quer ter prova da própria fé.

Você acha que Deus foi mal interpretado?
Muito. Porque o sistema bíblico prevê um homem que para chegar a Deus precisa passar por padres e pastores. Tem alguma coisa errada nisso, a criatura ou o criador.

O que se aproxima mais do contato com a divindade, a seu ver?
O evolucionismo. Porque Deus foi o movimento inicial. Tudo teve um ponto de partida, e esse ponto de partida nós chamamos de Deus.

Há casos de outras civilizações em que a escravidão estava presente e elas não tinham a Bíblia como pilar de seu pensamento religioso.
Sim, mas o olhar bíblico é escravagista, independentemente de outras religiões, do islamismo, de Maomé. Mas não é essa a questão, a questão é estritamente bíblica. A Bíblia é escravagista, na medida em que Deus trata a pessoa do escravo como uma simples mercadoria. A norma divina proibia também que um deficiente físico chegasse próximo ao altar do templo. Proibia que ele pagasse o dízimo porque na visão de Deus o templo seria profanado. É por estas circunstâncias a meu ver que hoje chegamos ao absurdo de precisar de uma lei para obrigar a Prefeitura a fazer uma rampa no passeio público. É uma coisa descomunal no plano divino.

Logo no início do livro você diz que a intenção é olhar a Bíblia e não através dela. Como isso é possível?
Tentando fazer uma separação entre fé e tecnicidade. Se eu olho através da Bíblia, vou ver realmente que o mar abriu e que foi Deus quem o mandou abrir para que o povo israelense passasse e afogasse os egípcios. Quando eu olho para a Bíblia eu vou descobrir que é possível o mar abrir, mas não por um fenômeno divino, e sim por um fenômeno da natureza. O mar não abre, ele recua.

Mas em alguns pontos você faz algum tipo de interpretação. Isso não é olhar através da Bíblia, do ponto de vista técnico?
Deus várias vezes aparece manifestando uma preocupação muito grande com outros deuses. Então se existiam outros deuses - e dentro do texto bíblico isso é muito claro -, aquele Deus que falava com os homens foi na verdade criado pelos homens. Essa é a reflexão que eu chamo.

Então você quer dizer que Deus era um tipo de miragem?
Sim, absoluta.

Uma alucinação, talvez?
Uma alucinação. O Deus bíblico, a meu ver, foi uma criação do homem.

Fonte: Galileu / Gospel+
Via: Notícias Cristãs


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