BRASÍLIA - Pela primeira vez na história, uma propriedade flagrada utilizando mão-de-obra semelhante à escrava será desapropriada e a área destinada à reforma agrária. A fazenda Cabaceiras tem 10 mil hectares e fica em Marabá (PA). Entre 2002 e 2004, o grupo móvel do Ministério do Trabalho resgatou na terra, que pertence à empresa Jorge Mutran Exportação Ilimitada, 82 pessoas trabalhando sob condições degradantes.
Segundo o coordenador da organização não-governamental Repórter Brasil, Leonardo Sakamoto, desde 2004 o Ministério do Desenvolvimento Agrário já havia decidido desapropriar a fazenda. Mas uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) impedia a ação.
Cerca de quatro anos depois, o proprietário desistiu da ação, concordou com a desapropriação e vai receber indenização referente ao valor da área. “Isso é histórico e pode servir para muitas outras”, comemorou Sakamoto em entrevista ao programa Amazônia Brasileira, da "Rádio Nacional".
Para ele, se a proposta de emenda à Constituição (PEC) do trabalho escravo, que tramita há seta anos na Câmara, já tivesse sido aprovada, o proprietário não teria direito a indenização. “A PEC pede exatamente a expropriação, o confisco, ou seja, a retirada da posse da terra sem direito a indenização. O que aconteceu agora foi, pela primeira vez, a desapropriação de uma terra por reforma agrária. O proprietário vai receber pela terra”, argumentou Sakamoto.
“Não basta forçar o pagamento de indenização [para os trabalhadores], não basta colocar na lista suja, tudo isso é insuficiente. Deixar uma propriedade rural grande nas mãos de uma pessoa que pratica esse crime, nada mais é que deixar o porte de armas para alguém que já provou que vai utilizar a arma para o mal”, comparou.
Para o coordenador da ONG Repórter Brasil, com a aprovação da PEC do trabalho escravo, os fazendeiros “pensarão duas vezes” antes de submeter trabalhadores a condições análogas à escravidão.
Fonte: último segundo
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