ÍNDIA (30º) - Vítimas da violência de extremistas hindus, cristãos que fugiram para a capital do Estado de Orissa disseram que a polícia estadual tem sido mera espectadora do caos que continua há quase duas semanas.
O ataque aos cristãos e às suas propriedades e instituições começaram no distrito de Kandhamal, Orissa, após o assassinato do líder do Vishwa Hindu Parishad (Conselho Hindu Mundial ou VHP), Laxmanananda Saraswati, e quatro de seus discípulos em 23 de agosto. Os maoístas se responsabilizaram pelos assassinatos no dia 1º de setembro, mas apesar da declaração, a violência não diminuiu, já que os líderes cristãos dizem que mais de cem pessoas morreram.
Entre os que fugiram para a capital Bhubaneswar estava o padre católico Pradodha Kumar, que chegou à Casa do Arcebispo, na capital, após uma viagem de sete dias, do vilarejo Onjamundi em Kandhamal. Ele estava com outras pessoas amedrontadas. Seus celulares recebiam notícias constantes de mais ataques a seus parentes, amigos e membros de igrejas nos vilarejos de Kandhamal.
O padre Kumar parecia muito preocupado com uma ligação específica:
“Meu irmão foi forçado a se ´reconverter´ ao hinduísmo, pois se não o fizesse, sua casa seria destruída”, ele disse.
Questionado pelo motivo de não ter relatado o abuso à polícia, o padre disse à agência de notícia Compass que, se os policiais “testemunhavam cristãos sendo brutalmente atacados´, porque eles se incomodariam em proteger seu irmão?
Alguns minutos depois, o celular do padre Kumar tocou novamente. Dessa vez era sobre os cristãos no vilarejo de Kanpada, no distrito de Kandhamal, forçados a se reconverter se não quisessem suas casas queimadas.
Logo em seguida, outra vítima na casa recebeu uma ligação, informando que 19 casas e igrejas haviam sido queimadas naquela manhã no vilarejo de Lujurmunda, na jurisdição policial de Tikabali, em Kandhamal.
A inércia do Estado
A declaração da maioria das vítimas da violência de Orissa é a de que a polícia não faz nada para proteger os cristãos.
Ravindranath Pradhan, um ex-soldado de 45 anos do Exército indiano, disse ao Compass que dois policias vieram até ele em seu vilarejo, Gadragaon, em Kandhamal, em 24 de agosto e perguntarem se ele ouvira as notícias sobre a morte de Saraswati. Os policias lhe disseram para ser cauteloso, mas quando Ravindranath disse que a polícia deveria proteger ele e sua família, eles disseram que não tinham poder suficiente para isso e saíram do vilarejo.
Pouco depois, Ravindranath disse, um grupo de 50 extremistas hindus atacou o vilarejo e queimou 31 casas que pertenciam aos cristãos. A multidão ateou fogo e matou seu irmão, Rasanand Pradhan, que sofria de paralisia, enquanto estava deitado no quarto que pegou fogo.
“Há um posto policial no vilarejo de Pasora, a cerca de 5 quilômetros de Gadragaon, mas não havia nenhum policial na hora do ataque”, disse o ex-soldado ao Compass.
Uma viagem difícil
Ravindranath Pradhan, junto com mais de cem cristãos, incluindo mulheres, crianças e bebês desse vilarejo, caminharam até Bhubaneswar, mais de 300 quilômetros. Ele viajou à pé e usou vários meios de transporte, parando em inúmeras florestas, antes de conseguir chegar à capital do Estado na terça, dia 2 de setembro.
“Levamos quatro longos dias para chegar em Bhubaneswar”, disse Ravindranath. “Não comemos nada. Sobrevivemos bebendo água dos rios ao longo do caminho. Também encontramos animais ferozes em algumas florestas”.
Fonte: Missão Portas Abertas
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